Exame de vista.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Ai, meu olho arde. Há dias que ele vem ardendo, e eu não entendo se é por causa de uma possível virose, se é por causa dessa tela cor de catarro devido a um defeito na placa de vídeo, se é porque eu mudei a marca da sombra que uso nos olhos, não sei se é a espera... Mas eles ardem. Tenho sentido muitas agonias por ser e não viver. Assistido a estagnação, o parar da minha caravana. Por impotência. Mas, deixa isso quieto, por enquanto.

A verdade é que eu preciso de algo novo. Sim, nem que seja uma nova calça jeans. Uma palavra nova em meu vocabulário. Me apaixonar por um novo autor, um novo assunto, uma nova banda, não me apaixonar pelos mesmas coisas dos mesmos autores, coisas que seguem uma mesma linha de raciocínio, um mesmo caminho, um mesmo estilo. Não, isso não representa uma desvaloração, não! Eu preciso crer que o mundo ainda produz coisas boas, sabe aquela coisa da esperança? E quanto às pessoas? Sim, por que não crer que existem pessoas boas também?

Hoje Bel foi me ver na faculdade, ficamos conversando sobre algumas novidades, almoçamos... ai, como nós precisamos de um “upgrade”. Eu e Kell também estamos com essa brincadeirinha de “mudança de comportamento”, de agir de outra forma, deixar de abaixar os ombros (sentido figurado – eu ando toda empinada pra frente) para as vicissitudes, manter uma postura altiva, passar batom, dar chapinha (exagero) e pintar as unhas de vermelho... Não que isso signifique ser “igual”, mas oferecer ao mundo a chance de um outro ser “eu”, de se surpreender comigo. Nós três aqui cometemos um erro terrível, mortal: o de ir até o fundo do poço por um pequeno desajuste nas coisas. E a gente chora, chora, sofre, se descabela, se descuida, anda feia, engorda, emagrece, fica doente... Quando na verdade aquela coisa de auto-ajuda é verdadeira, sacode e retorna porque a roda-viva está aí, mais viva do que nunca.

Voltando a Izabel, vimos uma cena linda. Uma menina, não sei se bolsista, estava cheia de caixas na mão, sendo que uma, a maior, estava cheia de pipetas, buretas, béckeres. Estávamos esperando o elevador da Politécnica, e um rapaz se aproximou para também tomar o elevador, e vendo aquela menina cheia de apetrechos, simplesmente tomou a caixa maior da mão dela. Eu achava que eles se conheciam, quando chegou no andar dela, ele simplesmente falou: não, eu vou lá também. A última frase que ouvimos foi “qual o seu nome”, antes que a porta do elevador cerrasse. Ficamos nós duas suspirando no elevador. Claro que dali pode sair muitas coisas, mas via-se que o rapaz fez aquele ato não por nenhum interesse, mas por uma das coisas da qual o mundo está mais deficiente: gentileza, aquela ligada à educação mesmo.

Já tive essa experiência antes. Algum rapaz que eu tenha me envolvido, ficado, não sei. Estamos juntos, saímos juntos e, mesmo me vendo cheia de livros, é incapaz de esboçar um gesto de gentileza. Preguiça? Não. Medo de criar vínculos. Medo de que com aquele gesto eu pense “Oh, como ele me ama” assim de um dia para a noite, quando isso não passa de uma questão de bons modos. Eu me emociono com pessoas gentis. Qualquer traço de gentileza, para mim, vale mais que qualquer presente. Esperar no ponto de ônibus, acompanhar no caminho deserto, encher o copo vazio. Tem tanto tempo que eu não sei o que é isso, tanto tempo... que eu até desacostumei. Aprendi a andar sozinha, a me proteger de ladrão, a me proteger de estuprador, a correr quando chego na porta da minha rua, que por ser apenas residencial é deserta por natureza... a pegar o último ônibus na Estação da Lapa sozinha...

Talvez eu esteja precisando simplesmente mudar a paleta de cores da minha aquarela... ou procurar um olftalmologista.

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