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sexta-feira, 25 de abril de 2008


" Meu amor não vem entre aspas


Como ocorre toda a sexta-feira, a gente quase não trabalha. Não sei se são as calças jeans, ou o final de semana. Sexta-feira, ficamos todos mais íntimos. Nos visitamos, de sala em sala, nos sentamos nas mesas. Conversamos.

Um colega, que está fazendo mestrado, me pergunta se eu já li alguma coisa do Albert Camus. Camus, o que brigou com o Sartre. Sim eu li. Camus era uma leitura proibida na minha idéia de bom moço. Por isso eu li. Camus é meio chato. Meio amargo. Mas escreve de um jeito bonito. Nos perdemos num semi-debate sobre a indiferença em Camus e a ataraxia estóica. Nós também devemos ser meio chatos.

E amiga me pergunta se eu conheço a tal Madeleine Peyroux que vai se apresentar aqui na próxima terça. Sim, eu já ouvi alguma coisa. É mais uma nova Billie Holiday. Falamos sobre jazz, sobre blues. Sobre os vestidos das divas. Sobre as taças de champagne antigas, rasas e largas. Falamos de blinis e caviar. Prometo trazer minha receita de blinis.
Minha amiga suspira. E me olha de um jeito estranho. Pergunto o que foi. Ela diz que quem casar comigo vai ter muita sorte. Pergunto por que. Ela diz que é tão difícil encontrar um homem que conversa sobre tantas coisas. Diz que acha lindo homens que fazem citações. Ou que pelo menos conhecem os autores. Amor cortês. Por que eu sempre faço isso? Ou por que elas fazem isso comigo?
Devolvo-lhe meu melhor sorriso. E depois digo que, além de tudo, sou bom de cama e faço o café da manhã. Todo mundo ri. Melhor assim.
Falando sério.
Meu amor não vem entre aspas.
Eu não lembro quem escreveu os últimos cinco livros que eu li. Eu nunca sei quem é o diretor dos filmes que eu assisto. Eu nunca sei qual é a música.
Eu não tenho trechos do Neruda, do Pessoa, ou de qualquer outro poeta que impressiona as mulheres de 30. Nem o Caio Fernando Abreu me diz muita coisa. Não é que eu não ache o que eles escrevem bonito, ou que eu não entenda. Pelo contrário, eu entendo bem. Mas que eu não preciso das palavras deles. Eu tenho minhas próprias lembranças. Eu tenho aquela caixa de cartas.
Minha cultura é uma fraude. Minha memória é curta, seletiva, distorcida e convencida. E muito focada no meu umbigo, e no de quem estiver comigo.
Meu amor não vem entre aspas. Mas ele vem com todos os clichês.
Eu respeito os clichês do amor. Eu respeito os clichês em geral.
Eu sou um homem comum. E de verdade.
Eu sou um homem que traz flores de supermercado. E que traz junto o rancho da semana. E escolhe o pão com a pontinha torrada, porque é assim que tu gostas. Eu não sou um homem de grandes frases compradas, nem de jogadas ensaiadas. Sou um homem de dias da semana. Sou um homem de comida na mesa, de sexo na cama, e de vice versa.
Eu não sou de serenatas, de dúzias de rosas. Sou do mais do tipo que te olha dormindo e chora. Sou daqueles que atravessam a cidade para te buscar porque está chovendo. Não sou do tipo que te compara com pinturas raras, mas num sinal fechado vou te olhar sorrindo e passar a mão no teu joelho e te perguntar se tu sabes que eu te amo.
Não sou homem de lingeries sexy, de fantasias alugadas. Não sou do tipo que diz coisas safadas. Sou mais do tipo que te quer de repente, com a tevê ligada. Que te olha sem vergonha nos restaurantes, que diz que quer logo chegar em casa.
Não, não faço o jogo da conquista. O meu forte é manutenção. Não te mando cartas cifradas, mensagens truncadas. Não, nada disso, eu vou de Vinícius, de Chico. Eu descubro teu favorito. Eu estudo teus álbuns de fotografia. Decoro o nome de todas as tuas tias. Eu leio sobre o teu trabalho. Eu te alimento.
Eu pico bem a cebola, tiro a pele do tomate. Eu nunca erro as colheres do açúcar, eu sei quantas pedras de gelo. Eu conheço teus joelhos. Conheço aquela pinta, embaixo do mamilo. Eu nunca aperto a tua barriga.
É, vai ver eu sou mesmo um chato. Mas eu não uso desses truques complicados. Eu não te dou os espanhóis, os russos, os franceses obscuros. Eu te dou a certeza. Ti dou o melhor de mim. O pior é brinde.
Eu sou desses homens óbvios. Não do tipo padrão futebol/cervejada. Não do tipo reserva jazz/autores malditos. Não, nada disso. Sou no máximo um cara comum /melhorado. Esforçado, apaixonado.
Meu amor não vem entre aspas. Vem de louça lavada e paninho na pia. De cara limpa, de rotina, de faxina no sábado. Meu amor é amor de sofá da sala. De compra parcelada.
Meu amor é de todo dia. E de cada dia mais.
Meu amor é desses de hora marcada, sem espera angustiada. Meu amor é desses de me liga qualquer hora, que eu largo tudo e vou aí te dar um beijo. É desses de nem me liga, que tu sabes a hora que eu chego.
Meu amor é de sábados inteiros na cama. Amor de hoje ninguém cozinha, a gente come ali na esquina. Meu amor é desses bobos. Amor de e se a gente viajasse no feriado?
Meu amor é de coisinhas. De hoje eu vim dormir aqui. Meu amor é de detalhes. De olha só o que eu te trouxe. De adivinha aonde nós vamos.
Meu amor não vem entre aspas. Ele vem comigo. E não vai embora. "

p.s.:tive q botar o texto aí ,entre aspas, pq o link não tava funcionando...mas o nome do autor do blog é Lutti e o blog é http://comqueroupa.blogspot.com

Quem puder ,leia!É na mesma linha do meu último post,só q numa visão masculina.É bem bonito...vale à pena conferir.E é bem anterior ao meu...muito interessante.


Ah, Dona Bel...rs...a que some e aparece...o texto tah massa, a dívida tah paga.

AMOCS!

3 comentários:

Izabel Cruz Melo disse...

Kell!
O link não funcionou.. e eu fiquei mega curiosa!!
beijos

Kelly C. disse...

tENTEI DAR UM JEITO AQUI, BOTEI O TEXTO AÍ PRA VC LER.aH A PLAYLIST TAH NOVA,FIZ PRA VC BASEADO NO Q C DISSE Q GOSTA LÁ NO PERFIL DO ORKUT....V SE GOSTA.BJX!

Anônimo disse...

Nossa mas vcs são chatas mesmo! Dah sono...

 
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