A minha vida realmente não cabe num opala.

sábado, 26 de julho de 2008

Quem por ventura for ler este texto algum dia na vida, não espere dele uma crítica cinematográfica, uma análise profissional dos méritos ou defeitos do filme. Este texto é fruto de uma pulsão, do soco no estômago que recebi hoje à noite no VI Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual.
E preciso dizer que não agüento mais ser saco de pancadas. Talvez eu seja realmente uma pessoa suscetível, ou esteja sensibilizada por morar numa cidade que recentemente publicizou que alguns de seus bairros periféricos têm toque de recolher, chacinas semanais e um embrião de mais uma guerra de traficantes nesse país de merda em que vivemos. O fato é que pelo menos para mim o filme entrelaça as violências do cotidiano, aquelas pequeninas, das insatisfações diárias, das frustrações, das saias justas em que somos colocados pelos outros, e aquela maior, que é fruto de um sistema social fudido, do qual fazemos parte, que não se incomoda de passar por cima de pessoas, famílias e sonhos, para que sua engrenagem continue a funcionar.
Não sou adepta da concepção de que o cinema tem que ser uma máquina de sonhos, de ilusão. É papel do cinema também denunciar as coisas que parecem erradas para alguém, portanto se os filmes são brutos, vomitados e violentos, apesar de um acuro e cuidado estéticos, a culpa não é do cinema, mas da realidade em que ele está inserido, e que é por sinal, a mesma que a nossa. Nesses dias de seminário, os filmes têm me tocado muito, mas mexido bastante com algo desconfortável, a idéia e a sensação física do medo. Do medo de uma violência que parece escalar pelas paredes do meu dia a dia. Temer as outras pessoas que nem eu que andam pela rua, desconfiar dos maltrapilhos, dos pedintes, dos pivetes – gente que geralmente é preta que nem eu – o que acaba doendo um pouco mais, eu acho. De repente, me pego me privando de coisas que gosto, por medo de ser assaltada, por exemplo. Essa sensação de impotência me assusta. E talvez porque ela pula da tela de modo tão aterrorizantemente realista, é que minha vida não caiba num opala.

1 comentários:

Anna Oh! disse...

Pois é, as prudções de uma época sempre são frutos do quadro social, do contexto no qual tudo se criou. Tem coisas q chocam, e se cinema não for pra mexer com a gente, não é pra nada mesmo.
Já que sabemos da realidade, podemos refletir sobre ela q dar nossa pequena (bem pequenina ) contribuição. Que o mundo tá perdido, é fato... mas muita gente ainda não se perdeu.
Isso de sensação de medo eu tive qdo fui ao RJ... sei lá, a gente scuta tanta coisa... dizem q é assim, em SP vc escuta do RJ e no RJ de SP... eu fiquei com medo, deixei d sair a noite... ia pra praia a tarde depois do congresso, mas com um sensação de perseguição horrível...
depois dizem que todo ser humano tem direito à liberdade... eu sinto isso como uma grande balela. Não se tem liberdade nenhuma.

 
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